Ciência
– Mundo Cientifico –
Repórter da
BBC testa dieta do jejum e vê sangue 'melhorar'
Por BBC Brasil
26 de janeiro de 2014
Durante cinco dias por mês, Peter Bowes comia o
correspondente a 1/4 da dieta média de uma pessoa
O repórter da BBC em Los
Angeles, Peter Bowes, se submeteu a um jejum intermitente como parte de um
teste clínico da Univerisity of Southern California (USC), nos Estados Unidos.
Durante cinco dias por mês, Bowes comia muito pouco, o
correspondente a 1/4 da dieta média de uma pessoa.
A cada ciclo ele perdeu peso e sentiu fome, se cansava
mais facilmente, mas ao mesmo tempo se sentia mais alerta. Porém, houver outras
mudanças em seu corpo que são, provavelmente, mais importantes.
Durante cada ciclo de cinco dias de jejum, ele perdeu
entre 2kg e 4kg. No entanto, entre um ciclo e outro existiam 25 dias em que
Bowen comia normalmente, e voltava praticamente ao seu peso original.
Mas nem todas as consequências da dieta desapareceram tão
rapidamente.
"O que nós encontramos é a manutenção de alguns dos
efeitos da dieta, mesmo quando ele voltou a ter uma alimentação normal",
explica Valter Longo, diretor do Instituto de Longevidade da USC, que observou
resultados similares em roedores.
"Isso foi uma ótima notícia, porque este é
exatamente o resultado que esperávamos conseguir."
Resultados
A seguir, Bowes relata sua experiência com o jejum e os
resultados encontrados.
Os testes clínicos mostraram que durante os ciclos da
dieta a minha pressão arterial sistólica caiu cerca de 10%, enquanto que a
pressão arterial diastólica permaneceu a mesma. Para alguém que, às vezes,
ficava no limite da hipertensão, isso foi animador.
No entanto, depois do período controlado da dieta, minha
pressão sanguínea, assim como o meu peso, voltaram ao seu estado normal – não
muito saudável.
Os pesquisadores querem saber se ciclos repetidos de
dieta podem ser usados para ajudar a controlar, a longo prazo, a pressão
arterial em pessoas.
Indiscutivelmente, as mudanças mais interessantes
ocorreram nos níveis de um hormônio de crescimento conhecido como IGF-1 (agente
de crescimento semelhante à insulina). Acredita-se que níveis altos de
IGF-1, uma proteína produzida pelo fígado, podem aumentar significativamente os
riscos de câncer colorretal, de mama, e de próstata. Baixos níveis de IGF-1
reduzem esses riscos.
"Em estudos feitos com animais, nós, e outros
pesquisadores, mostramos que este é um agente que está muito associado ao
envelhecimento e a uma variedade de doenças, incluindo o câncer", disse
Longo.
Estudos em ratos mostraram que uma dieta extrema,
semelhante a que eu experimentei, faz com que os níveis de IGF-1 caiam e fiquem
baixos por um período após um retorno à alimentação normal.
Durante os cinco dias de jejum, Bowes comia refeições
especialmente feitas para o teste clínico
Os meus resultados mostraram exatamente o mesmo padrão.
"Você teve uma queda grande no IGF-1, próxima a 60%,
e uma vez que você voltou a se alimentar normalmente, o nível subiu novamente,
mas continuou 20% mais baixo", Longo me disse.
Ele me disse que tal redução poderia fazer uma diferença
significativa para um indivíduo propenso a desenvolver certos tipos de câncer.
Um estudo feito com pessoas de um pequeno povoado no Equador, que têm níveis de
IGF-1 muito mais baixos porque eles não têm um receptor hormonal de
crescimento, mostrou que eles raramente desenvolvem cânceres e outras condições
relacionadas à idade.
Agente inibidor
Os meus testes sanguíneos também revelaram que o grande
inibidor do IGF-1, o IGFBP-1, estava bastante alto durante o período de jejum.
Mesmo quando eu voltei a me alimentar normalmente, o nível do IGFBP-1 estava
elevado comparado os meus níveis iniciais.
Isto é, segundo Longo, um sinal de que o meu corpo ligou
um modo que era muito mais propício para o envelhecimento saudável.
Os dados de outros participantes do estudo ainda estão
sendo analisados, mas se eles também mostrarem níveis mais baixos de IGF-1 e
maiores níveis de IGFBP-1, isso poderia ajudar os cientistas a desenvolver um
regime de jejum intermitente que permite que as pessoas comam uma dieta normal
a maior parte do tempo, e ainda retardem o processo de envelhecimento.
Uma ideia sendo explorada por Longo é que uma intervenção
de cinco dias a cada 60 dias pode ser suficiente para desencadear mudanças
positivas no corpo.
"Isso é exatamente o que temos em mente para
permitir que as pessoas, por, digamos, durante 55 dias a cada 60 dias, decidam
o que vão comer com a ajuda de um bom médico, e façam a dieta nos outros cinco
dias. Eles não podem achar que é a melhor comida que já comeram, mas é muito
mais fácil, do que, por exemplo, fazer um jejum completo, e pode ser também
mais eficaz."
As pequenas refeições que me davam durante os 5 dias de
jejum estavam longe de ser elaboradas e saborosas, mas eu ficava feliz em ter
alguma coisa para comer. Há aqueles que são a favor de uma dieta restrita em
calorias que promovem o jejum completo.
Os testes sanguíneos de Bowes mostraram níveis mais
baixos de um agente associado ao envelhecimento
Os meus testes sanguíneos detectaram um aumento
significativo em um tipo de célula, que pode ter um papel na regeneração dos
tecidos e dos órgãos.
É uma área controversa e não compreendida inteiramente
por cientistas.
"Os seus resultados correspondem aos dados
pré-clínicos encontrados em modelos animais que mostram que os ciclos de jejum
poderiam elevar essa substância particular, com características de
células-tronco", disse Wei Min, o principal pesquisador.
A substância também tem sido descrita como "semelhante
ao embrião".
"Pelo menos nos seres humanos, temos uma compreensão
muito limitada do que elas fazem. Em estudos com animais eles se assemelham ao
'embrião' que significa que elas são o tipo de células que têm a capacidade de
regenerar quase tudo", diz Longo.
Estágio experimental
Seria altamente benéfico se o jejum intermitente pudesse
desencadear uma resposta que aumenta a capacidade do corpo de autorreparação,
porém mais pesquisa é necessária para confirmar essas observações.
Essa dieta ainda está em estágio experimental, e
resultados do teste clínico ainda estão sendo estudados. Outros cientistas
irão, eventualmente, investigar os resultados de forma independente, e podem
tentar replicá-los.
"Em um teste clínico, nós gostamos de ver, além da
descoberta inicial, outros testes que confirmem, de forma mais abrangente, que
os resultados podem ser aplicados a outras pessoas", disse Lawrence Piro,
um especialista em câncer do Angeles Clinic and Research Institute.
Testes clínicos no futuro serão concentrados em membros
de uma comunidade que estão em situação de "risco", aqueles que são
obesos, para verificar sua resposta a uma dieta severamente restrita.
Mas, se essa dieta, ou outra intermitente, for
eventualmente comprovada como eficiente e sustentável, poderá ter implicações
profundas na perda de peso e na maneira como médicos combatem doenças
relacionadas à idade.
Texto em PDF:
Disponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140121_reporter_bbc_cobaia_jejum_an.shtml
> Acesso dia 28 de janeiro de 2014.
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