Ciência - Mundo Científico –
Do Brasil de 70 ao Tijuana: Tite vira pesquisador para levar Seleção à Copa
Em entrevista exclusiva, técnico revela influências e exemplos que usa para driblar falta de treinos, e explica por que ainda não pensa em montar um grupo para a Copa
Por GE
03 de outubro de 2016

Quem joga na seleção brasileira de futebol comandada por Tite recebe uma senha para acessar a mente do treinador. Suas ideias se materializam num compilado de vídeos: lances, exemplos, fragmentos, do Brasil de 1970, tricampeão com Pelé, Tostão, Gérson, Rivellino e companhia, até o de Dunga, demitido após má campanha nas eliminatórias e na Copa América. E passa pela mágica equipe de Telê em 1982, a França que naufragou na Euro, o Chile bi da Copa América, do Barcelona ao Tijuana, clube mexicano de pouca tradição.
Sem poder trabalhar sentindo dia a dia o cheiro da grama, como tanto gostava nos clubes, Tite transformou o departamento de análise, criado por Dunga e Gilmar Rinaldi, no CPA (Centro de Pesquisa e Análise). Na sala ao lado da sua, na sede da CBF, no Rio de Janeiro, ele e sua comissão técnica buscam exemplos do que desejam ver no time. Essas ideias são passadas aos convocados, que acessam e estudam o que o professor quer ver na prática.
Foi em seu novo habitat que Tite recebeu o GloboEsporte.com para falar de futebol. De ontem, hoje e amanhã. E contou quais as influências que moldam sua seleção brasileira, agradável ao público nas vitórias sobre Equador e Colômbia, seus primeiros desafios, e que agora enfrentará Bolívia, nesta quinta-feira, em Natal, e Venezuela, no próximo dia 11, em Mérida. Jogos que podem consolidar a recuperação na tabela, rumo à Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Como fazer Neymar ver um gol de Puyol, pela Espanha, e compreender seu posicionamento na marcação da bola parada? O que fazer com Thiago Silva depois do bom desempenho da zaga com Miranda e Marquinhos? Como atenuar a falta de competitividade de Paulinho e Renato Augusto, seus meias, no futebol chinês? Que valioso conselho ele poderia receber de Vanderlei Luxemburgo para conduzir o Brasil à classificação ao próximo Mundial?
Tudo isso, e muito mais, o técnico e pesquisador Tite responde a seguir:
Nos clubes, o trabalho diário no campo te dava muito prazer. Você já encontrou prazer semelhante na Seleção, em passar mais tempo num escritório do que em campo?
Não digo semelhante, mas estou substituindo, me reciclando. É outra forma, a não ser nos sete dias em que nos reunimos. Por exemplo, quando vou assistir a jogos no estádio a adrenalina fica a milhão, fico dentro do jogo. É um ângulo de visão diferente, mas analiso, observo. Ver futebol é fácil, mas interpretar, analisar, pesquisar futebol é difícil. Eu quero ver as bolas paradas do Real Madrid, do Atlético de Madrid, para colocar os atletas nas posições às quais estão acostumados. Isso está sendo legal. Olho a jogada de três tempos de escanteio que Real e Barcelona fazem, e vejo que dá para ajustar e trazer para cá porque eles estão treinados.
Não digo semelhante, mas estou substituindo, me reciclando. É outra forma, a não ser nos sete dias em que nos reunimos. Por exemplo, quando vou assistir a jogos no estádio a adrenalina fica a milhão, fico dentro do jogo. É um ângulo de visão diferente, mas analiso, observo. Ver futebol é fácil, mas interpretar, analisar, pesquisar futebol é difícil. Eu quero ver as bolas paradas do Real Madrid, do Atlético de Madrid, para colocar os atletas nas posições às quais estão acostumados. Isso está sendo legal. Olho a jogada de três tempos de escanteio que Real e Barcelona fazem, e vejo que dá para ajustar e trazer para cá porque eles estão treinados.
O que é um escanteio de três tempos?
É esse aqui (levanta-se da cadeira em direção ao quadro da sala que tem justamente essa jogada desenhada). Sai numa jogada curta e sai num terceiro momento. Contra a Colômbia, o Neymar puxa no fundo e o Marcelo cava a bola (veja no vídeo abaixo). O Barcelona fez um gol assim com o Messi. São prazeres novos. Agora, eu pego o que já tem feito, trago e faço na equipe: “Neymar, tu já está fazendo lá, agora vai repetir aqui”. Começamos a treinar essa bola (de escanteio) e o Casemiro estava no primeiro pau com o Miranda mais atrás. Aí me lembrei de uma jogada do Real em que Casemiro entrava por trás, ele é um cavalo. Falei: “Miranda, entra lá na frente e o Casemiro entra atrás, igual ao gol que perdeu contra o Eibar”. Ele abriu um sorriso.
É esse aqui (levanta-se da cadeira em direção ao quadro da sala que tem justamente essa jogada desenhada). Sai numa jogada curta e sai num terceiro momento. Contra a Colômbia, o Neymar puxa no fundo e o Marcelo cava a bola (veja no vídeo abaixo). O Barcelona fez um gol assim com o Messi. São prazeres novos. Agora, eu pego o que já tem feito, trago e faço na equipe: “Neymar, tu já está fazendo lá, agora vai repetir aqui”. Começamos a treinar essa bola (de escanteio) e o Casemiro estava no primeiro pau com o Miranda mais atrás. Aí me lembrei de uma jogada do Real em que Casemiro entrava por trás, ele é um cavalo. Falei: “Miranda, entra lá na frente e o Casemiro entra atrás, igual ao gol que perdeu contra o Eibar”. Ele abriu um sorriso.

Há alguns anos estive em sua casa para uma matéria, e havia um enorme quebra-cabeça sobre a mesa de jantar, estava sendo montado por sua filha. Ser técnico da Seleção é como montar um quebra-cabeça? É um trabalho de colagem de fragmentos que já existem, logicamente com a adaptação ao seu sistema de jogo?
Sim, o comparativo é mais ou menos assim. E tu tem o desafio, nessas montagens de peças, das relações humanas, pessoais, de confiança, que só se estabelecem com o tempo. Apressar esse processo, encontrar um nível de conhecimento porque nossa atividade tem duas pilastras muito fortes: conduta pessoal e qualificação profissional. Não falo de acertar tudo, mas da ideia de ser leal, e tempo é fundamental para que essas coisas aconteçam.
Sim, o comparativo é mais ou menos assim. E tu tem o desafio, nessas montagens de peças, das relações humanas, pessoais, de confiança, que só se estabelecem com o tempo. Apressar esse processo, encontrar um nível de conhecimento porque nossa atividade tem duas pilastras muito fortes: conduta pessoal e qualificação profissional. Não falo de acertar tudo, mas da ideia de ser leal, e tempo é fundamental para que essas coisas aconteçam.

Você mantém algum contato com os jogadores quando eles estão nos clubes?
Alguns. Por exemplo, quando se lesionaram Casemiro e Marcelo, eles entraram em contato com o Edu (Gaspar, coordenador da CBF) para se reportar e fiz questão de passar uma palavra de incentivo para terem calma e fazerem o melhor possível, que daqui a pouco podem estar de volta. O mesmo com o Douglas Costa. E liguei para quem não havia sido convocado na primeira vez: Fernandinho, Oscar, Firmino. Eu os parabenizei porque sou muito criterioso. Quanto melhor estiverem no clube, mais confiantes, bem treinados, chegarão bem. E, da mesma forma, façam bem na Seleção para voltarem melhor ao clube. Não pode ser uma ruptura, tem de ser conjugado.
Alguns. Por exemplo, quando se lesionaram Casemiro e Marcelo, eles entraram em contato com o Edu (Gaspar, coordenador da CBF) para se reportar e fiz questão de passar uma palavra de incentivo para terem calma e fazerem o melhor possível, que daqui a pouco podem estar de volta. O mesmo com o Douglas Costa. E liguei para quem não havia sido convocado na primeira vez: Fernandinho, Oscar, Firmino. Eu os parabenizei porque sou muito criterioso. Quanto melhor estiverem no clube, mais confiantes, bem treinados, chegarão bem. E, da mesma forma, façam bem na Seleção para voltarem melhor ao clube. Não pode ser uma ruptura, tem de ser conjugado.
Você deve assistir a muito mais jogos agora do que quando era técnico de clube, não é?
Sim, e às vezes um pouco demais, mas é meu jeito. Definimos a última convocação e havia um jogador que fazia parte dos planos e jogava no domingo. Eu já havia definido, ele estava fora dessa, mas me peguei assistindo, e já havia assistido a dois ou três jogos antes. Minha mulher falou: “Tu tá de sacanagem, não vai ficar um pouquinho comigo? Não adianta mais” (risos).
Sim, e às vezes um pouco demais, mas é meu jeito. Definimos a última convocação e havia um jogador que fazia parte dos planos e jogava no domingo. Eu já havia definido, ele estava fora dessa, mas me peguei assistindo, e já havia assistido a dois ou três jogos antes. Minha mulher falou: “Tu tá de sacanagem, não vai ficar um pouquinho comigo? Não adianta mais” (risos).
Você assistiu a um atleta que não foi convocado. O Brasil tem muitas opções. Nos últimos 10 anos, é quem menos repete jogadores de um torneio para outro, média de 8,5, enquanto as últimas campeãs do mundo, Espanha e Alemanha, repetem em média 15,6 e 14 jogadores, respectivamente. Ter um leque tão farto é um trunfo ou uma armadilha?
Boa pergunta. É desafiador. Esses dias eu observava nas minhas anotações da Copa do Mundo de 2010 a base da seleção alemã: Neuer, Lahm, Mertesacker, Friedrich, Boateng, Schweinsteiger, Khedira, Podolski, Klose e Özil: nove desses foram campeões em 2014. É desafiador ter material humano e montar uma equipe. Eu me lembro de um conselho doLuxemburgo (técnico da seleção brasileira entre 1998 e 2000) que me fez refletir e concordar. Ele disse: “Tite, na eliminatória, leve os melhores no momento. Não busque a montagem de um grupo para a Copa porque tu não tem tempo de treinamento”. Há necessidade urgente de resultado, ainda mais no momento que enfrentávamos e continuamos enfrentando. São sete equipes com cinco pontos de diferença. Ganhamos do Equador e fomos jantar, estava passando Argentina 1x0 Uruguai. Comecei a bater a classificação: primeiro, segundo, terceiro, fui murchando e disse: “Ganhamos e estamos em quinto, que merda”. Talvez tenha sido um erro que ele cometeu quando técnico da Seleção e ficou uma marca. Para mim foi de muita valia.
Boa pergunta. É desafiador. Esses dias eu observava nas minhas anotações da Copa do Mundo de 2010 a base da seleção alemã: Neuer, Lahm, Mertesacker, Friedrich, Boateng, Schweinsteiger, Khedira, Podolski, Klose e Özil: nove desses foram campeões em 2014. É desafiador ter material humano e montar uma equipe. Eu me lembro de um conselho doLuxemburgo (técnico da seleção brasileira entre 1998 e 2000) que me fez refletir e concordar. Ele disse: “Tite, na eliminatória, leve os melhores no momento. Não busque a montagem de um grupo para a Copa porque tu não tem tempo de treinamento”. Há necessidade urgente de resultado, ainda mais no momento que enfrentávamos e continuamos enfrentando. São sete equipes com cinco pontos de diferença. Ganhamos do Equador e fomos jantar, estava passando Argentina 1x0 Uruguai. Comecei a bater a classificação: primeiro, segundo, terceiro, fui murchando e disse: “Ganhamos e estamos em quinto, que merda”. Talvez tenha sido um erro que ele cometeu quando técnico da Seleção e ficou uma marca. Para mim foi de muita valia.

Eu sabia que você tinha um caderno com anotações dos 64 jogos da Copa de 2014. Então tem de 2010 também?
Sim, e também da Copa de 2006. É uma forma de marcar, relembrar, solidificar, afirmar uma ideia. Estou sempre anotando. E dos nossos jogos eu deixo um local aberto para estratégias em cima das observações. Esta aqui (mostra uma página em branco de um dos seus cadernos) é para Brasil x Bolívia: as estratégias ofensivas, defensivas.
Sim, e também da Copa de 2006. É uma forma de marcar, relembrar, solidificar, afirmar uma ideia. Estou sempre anotando. E dos nossos jogos eu deixo um local aberto para estratégias em cima das observações. Esta aqui (mostra uma página em branco de um dos seus cadernos) é para Brasil x Bolívia: as estratégias ofensivas, defensivas.
O caderno de 2014 ajudou nos jogos contra Equador e Colômbia, ou as seleções mudaram muito desde a Copa do Mundo?
Uso mais em cima das ideias e do desempenho da própria seleção brasileira, é um referencial importante para eu ter o domínio de todas as variáveis. Em relação aos adversários, deixo muito o Cléber(Xavier), o Sylvinho e o Matheus (Bachi) acompanharem essas modificações. Vou te dar algumas ideias: assisti à Colômbia contra o Chile na Copa América. O Isla (lateral-direito do Chile) indo dentro, 2 a 0 em 15 minutos, e o James aberto pela esquerda, flutuando. E o Isla gerando superioridade numérica porque o James acompanha até certo ponto e solta. Depois de 20 minutos, o Pekerman (técnico da Colômbia) coloca um agudo na esquerda e deixa o James por dentro. Deu uma equilibrada. O que eu presumi para o nosso jogo? Ele não iria deixar o James do lado do Marcelo porque o Marcelo sai muito e o James não vai buscar. Ele não iria querer nos deixar gerar superioridade.
Uso mais em cima das ideias e do desempenho da própria seleção brasileira, é um referencial importante para eu ter o domínio de todas as variáveis. Em relação aos adversários, deixo muito o Cléber(Xavier), o Sylvinho e o Matheus (Bachi) acompanharem essas modificações. Vou te dar algumas ideias: assisti à Colômbia contra o Chile na Copa América. O Isla (lateral-direito do Chile) indo dentro, 2 a 0 em 15 minutos, e o James aberto pela esquerda, flutuando. E o Isla gerando superioridade numérica porque o James acompanha até certo ponto e solta. Depois de 20 minutos, o Pekerman (técnico da Colômbia) coloca um agudo na esquerda e deixa o James por dentro. Deu uma equilibrada. O que eu presumi para o nosso jogo? Ele não iria deixar o James do lado do Marcelo porque o Marcelo sai muito e o James não vai buscar. Ele não iria querer nos deixar gerar superioridade.
Você achava que ia jogar o Cuadrado.
Eu achava, e imaginava que ele não daria liberdade ao Marcelo. Quando saiu a escalação, o Matheus (auxiliar e filho de Tite) veio falar comigo: “Pai, vai jogar assim, o Cuadrado fora”. E eu: “Ele não vai deixar o James do lado do Marcelo”. Estávamos no reservado do vestiário, mas com as portas abertas, e o Casemiro vendo. Eu saí, e quando voltei o Casemiro estava falando com o Matheus. Deixei conversarem e perguntei o que ele queria. Matheus respondeu: “Pai, ele veio perguntar o que nós dois estávamos falando sobre o posicionamento do James”. Você vê a capacidade analítica do atleta concentrado. Começou o jogo e o James do lado direito! Eu olhava para o banco, e uma hora reclamei com o Miranda: “Miranda, aqui, é aqui que é pra jogar! Larga nesse lado esquerdo”. No primeiro tempo era para ter sido dois ou três (assista, no vídeo abaixo, a três lances seguidos de ataque da seleção brasileira, no primeiro tempo, em que Marcelo tem total liberdade pelo lado esquerdo, sem a marcação de James Rodríguez) . Aí, numa bola parada, eles empataram, o Pekerman chamou o James e trocou de lado. Empatou e ajeitou o time. Esses cuidados temos de monitorar. Vou dizer por que errei: porque o Pekerman olha primeiro para o time dele, onde as peças podem render mais, depois ajusta. Igual eu penso.
Eu achava, e imaginava que ele não daria liberdade ao Marcelo. Quando saiu a escalação, o Matheus (auxiliar e filho de Tite) veio falar comigo: “Pai, vai jogar assim, o Cuadrado fora”. E eu: “Ele não vai deixar o James do lado do Marcelo”. Estávamos no reservado do vestiário, mas com as portas abertas, e o Casemiro vendo. Eu saí, e quando voltei o Casemiro estava falando com o Matheus. Deixei conversarem e perguntei o que ele queria. Matheus respondeu: “Pai, ele veio perguntar o que nós dois estávamos falando sobre o posicionamento do James”. Você vê a capacidade analítica do atleta concentrado. Começou o jogo e o James do lado direito! Eu olhava para o banco, e uma hora reclamei com o Miranda: “Miranda, aqui, é aqui que é pra jogar! Larga nesse lado esquerdo”. No primeiro tempo era para ter sido dois ou três (assista, no vídeo abaixo, a três lances seguidos de ataque da seleção brasileira, no primeiro tempo, em que Marcelo tem total liberdade pelo lado esquerdo, sem a marcação de James Rodríguez) . Aí, numa bola parada, eles empataram, o Pekerman chamou o James e trocou de lado. Empatou e ajeitou o time. Esses cuidados temos de monitorar. Vou dizer por que errei: porque o Pekerman olha primeiro para o time dele, onde as peças podem render mais, depois ajusta. Igual eu penso.
Pelo tempo de convívio e enfrentamento, você deve conhecer muito bem os técnicos brasileiros, agora tem de conhecer os das seleções. Isso leva tempo?
Eu pedi o perfil de todos os técnicos que o Brasil vai enfrentar. Quero saber se é mais arrojado, ver as substituições que eles fazem. Porque com o Pekerman eu errei.
Eu pedi o perfil de todos os técnicos que o Brasil vai enfrentar. Quero saber se é mais arrojado, ver as substituições que eles fazem. Porque com o Pekerman eu errei.
Você pediu depois do jogo contra a Colômbia?
Pedi antes, mas depois ratifiquei. Porque eu disse a eles: “Olha a merda que eu falei” (risos). Mas o Cleber (Xavier, auxiliar de Tite) disse que também não imaginava.
Pedi antes, mas depois ratifiquei. Porque eu disse a eles: “Olha a merda que eu falei” (risos). Mas o Cleber (Xavier, auxiliar de Tite) disse que também não imaginava.
Em seu conceito de atacar com seis jogadores, você diz que o diferencial do Brasil é o uso dos laterais nessa engrenagem. A partir do momento em que o Marcelo passou a ter companhia frequente de um marcador, os homens de meio-campo tiveram que compensar e ser mais presentes na armação ofensiva?
Tu viu as infiltrações que o Renato Augusto teve depois que entrou o Cuadrado? Perfeita observação. Abriu possibilidade de o Renato ser mais agressivo. Em dois ou três lances infiltrou pela meia esquerda. Num ele rodou, rodou, e eu disse: “Bota pra dentro! Pega um cara entrando, é gol!”. As infiltrações centrais do Renato passaram a ser maiores. Normalmente ele é o construtor por trás, a química de ajuste aconteceu (assista ao vídeo abaixo, em que Marcelo e Renato Augusto acertam posicionamento na volta do Brasil para o segundo tempo).
Tu viu as infiltrações que o Renato Augusto teve depois que entrou o Cuadrado? Perfeita observação. Abriu possibilidade de o Renato ser mais agressivo. Em dois ou três lances infiltrou pela meia esquerda. Num ele rodou, rodou, e eu disse: “Bota pra dentro! Pega um cara entrando, é gol!”. As infiltrações centrais do Renato passaram a ser maiores. Normalmente ele é o construtor por trás, a química de ajuste aconteceu (assista ao vídeo abaixo, em que Marcelo e Renato Augusto acertam posicionamento na volta do Brasil para o segundo tempo).
Seu fascínio por meio-campistas é público. Preocupa, de alguma maneira, o fato de seus dois meias centrais, Paulinho e Renato Augusto, jogarem na China?
Quando leio o Ferguson (pega o livro “Liderança”, do técnico inglês Alex Ferguson, aposentado depois de 27 anos no Manchester United), ele faz uma observação extraordinária: diz que seu desafio era manter sempre o meio-campo em alto nível, com boa qualidade e bom senso de marcação. Abri um sorriso. Quando conversei com o Zagallo, ele trouxe o conceito de um meio-campo que tenha capacidade criativa e estabeleça um ponto de equilíbrio. As grandes equipes mostram isso, com uma característica maior ou menor de criatividade ou combatividade. Na seleção de 1982, a flutuação era do lado direito com Zico e Sócrates. O Flamengo era assim. O Corinthians de 2015 era assim. Os grandes momentos das grandes equipes têm marca muito forte na química da formação do meio-campo. Vejo ali um ponto de criação e de também ser combativo, uma composição que dê punch (termo em inglês para “pegada”, “competitividade”). A Colômbia tem dois articuladores para dois atacantes. No Chile, Vargas faz composição como jogador de articulação. Ele não é atacante, é meio-campista. Na Argentina, Messi é o flutuador. O desenho tático da Alemanha na Olimpíada era igual ao da Copa de 2014, mas o time principal tinha Müller agressivo do lado direito e a flutuação do Özil pela esquerda, com Klose de centroavante. A seleção olímpica tinha Gnabry agudo pela esquerda, um pivô, e quem flutuava era o lado direito, porém o mesmo desenho tático: quatro jogadores no meio-campo.
Quando leio o Ferguson (pega o livro “Liderança”, do técnico inglês Alex Ferguson, aposentado depois de 27 anos no Manchester United), ele faz uma observação extraordinária: diz que seu desafio era manter sempre o meio-campo em alto nível, com boa qualidade e bom senso de marcação. Abri um sorriso. Quando conversei com o Zagallo, ele trouxe o conceito de um meio-campo que tenha capacidade criativa e estabeleça um ponto de equilíbrio. As grandes equipes mostram isso, com uma característica maior ou menor de criatividade ou combatividade. Na seleção de 1982, a flutuação era do lado direito com Zico e Sócrates. O Flamengo era assim. O Corinthians de 2015 era assim. Os grandes momentos das grandes equipes têm marca muito forte na química da formação do meio-campo. Vejo ali um ponto de criação e de também ser combativo, uma composição que dê punch (termo em inglês para “pegada”, “competitividade”). A Colômbia tem dois articuladores para dois atacantes. No Chile, Vargas faz composição como jogador de articulação. Ele não é atacante, é meio-campista. Na Argentina, Messi é o flutuador. O desenho tático da Alemanha na Olimpíada era igual ao da Copa de 2014, mas o time principal tinha Müller agressivo do lado direito e a flutuação do Özil pela esquerda, com Klose de centroavante. A seleção olímpica tinha Gnabry agudo pela esquerda, um pivô, e quem flutuava era o lado direito, porém o mesmo desenho tático: quatro jogadores no meio-campo.
E sobre Paulinho e Renato Augusto jogarem na China? É uma preocupação?
Cuidados eu tenho, sim. Avaliação do grau de competitividade, do nível de enfrentamento, conversas com outros técnicos. O Vanderlei (Luxemburgo, que treinou o Tianjin Quanjian, da segunda divisão chinesa, entre dezembro de 2015 e junho de 2016) disse: “Tite, apesar de muitos estrangeiros, da metodologia, ainda há uma defasagem”. Como suprir isso? Em vez de uma semana, eles têm 15 dias para jogar, então Paulinho, Gil e Renato Augusto vêm antes para treinar. E eu falo para buscarem preparadores físicos pessoais, nutricionistas. Digo ao Fábio(Mahseredjian, preparador físico da seleção brasileira) para passar isso porque não vou trazer jogador fora do nível de força, fora do peso. Não tenho tempo de recuperar ninguém, não quero nenhum atleta que esteja se recuperando. Olho os minutos de jogo, acompanhamos treinos. Eles(auxiliares) foram acompanhar treinos do Thiago Silva.
Cuidados eu tenho, sim. Avaliação do grau de competitividade, do nível de enfrentamento, conversas com outros técnicos. O Vanderlei (Luxemburgo, que treinou o Tianjin Quanjian, da segunda divisão chinesa, entre dezembro de 2015 e junho de 2016) disse: “Tite, apesar de muitos estrangeiros, da metodologia, ainda há uma defasagem”. Como suprir isso? Em vez de uma semana, eles têm 15 dias para jogar, então Paulinho, Gil e Renato Augusto vêm antes para treinar. E eu falo para buscarem preparadores físicos pessoais, nutricionistas. Digo ao Fábio(Mahseredjian, preparador físico da seleção brasileira) para passar isso porque não vou trazer jogador fora do nível de força, fora do peso. Não tenho tempo de recuperar ninguém, não quero nenhum atleta que esteja se recuperando. Olho os minutos de jogo, acompanhamos treinos. Eles(auxiliares) foram acompanhar treinos do Thiago Silva.

Ainda sobre o setor, a palavra “volante” foi abolida em suas convocações. Você anuncia meio-campistas, e lá estão Casemiro, Lucas Lima, todos reunidos. Isso transmite uma ideia que você quer passar?
Sim, passa um conceito. Volante tem uma conotação só de marcação, eu tenho meio-campistas que têm que passar bem. Hoje já se exige zagueiro que constrói, que, como eu digo, desarma armando. Se tiver a percepção, no desarme, de fazer um passe, vai pegar a equipe adversária mais aberta e desestruturada.
Sim, passa um conceito. Volante tem uma conotação só de marcação, eu tenho meio-campistas que têm que passar bem. Hoje já se exige zagueiro que constrói, que, como eu digo, desarma armando. Se tiver a percepção, no desarme, de fazer um passe, vai pegar a equipe adversária mais aberta e desestruturada.
Ter zagueiros que constroem é um passo futuro de sua equipe?
Sim. Um dos maiores quesitos que o Gil evoluiu: ele quebrava a bola, e eu dizia: “Gil, não precisa. Se tu pegar uma bola de fundo que fez cobertura, coloca em jogo pro centroavante, daqui a pouco ela espirra e nós ganhamos de novo”. Não precisa jogar pra longe. O torcedor vai falar “beleza!!!” (com gesto de aplausos). E aí? O que contribuiu para a equipe? Muitos times marcam os volantes e laterais. Se marcarem o lateral, vai abrir a linha de passe para o zagueiro. Marquinhos tem muito isso. Rodrigo Caio tem muito.
Sim. Um dos maiores quesitos que o Gil evoluiu: ele quebrava a bola, e eu dizia: “Gil, não precisa. Se tu pegar uma bola de fundo que fez cobertura, coloca em jogo pro centroavante, daqui a pouco ela espirra e nós ganhamos de novo”. Não precisa jogar pra longe. O torcedor vai falar “beleza!!!” (com gesto de aplausos). E aí? O que contribuiu para a equipe? Muitos times marcam os volantes e laterais. Se marcarem o lateral, vai abrir a linha de passe para o zagueiro. Marquinhos tem muito isso. Rodrigo Caio tem muito.
Está difícil fechar quatro zagueiros nas convocações? É uma posição farta hoje no Brasil?
Na última eu deixei fora o Felipe (zagueiro do Porto, campeão brasileiro com Tite no Corinthians em 2015), que havia sido convocado (por Dunga, em março, para o lugar do suspenso David Luiz)e tem velocidade e impulsão impressionantes. Eu entendia ser justo pelo momento do Rodrigo Caio e do Marquinhos. E tem um rol com Thiago Silva, David Luiz, e uma série de atletas de boa qualidade. Fechar quatro é desafiador.
Na última eu deixei fora o Felipe (zagueiro do Porto, campeão brasileiro com Tite no Corinthians em 2015), que havia sido convocado (por Dunga, em março, para o lugar do suspenso David Luiz)e tem velocidade e impulsão impressionantes. Eu entendia ser justo pelo momento do Rodrigo Caio e do Marquinhos. E tem um rol com Thiago Silva, David Luiz, e uma série de atletas de boa qualidade. Fechar quatro é desafiador.
Agora você tem uma defesa que se portou muito bem com Marquinhos e Miranda, e a volta do Thiago Silva, considerado um dos melhores do mundo. Como escalar essa zaga?
Com coerência.
Com coerência.
E na sua coerência, Thiago Silva joga ou começa no banco?
Numa coerência geral, não vou antecipar(risos).
Numa coerência geral, não vou antecipar(risos).
Independentemente de jogar essas próximas partidas, Thiago Silva será um dos capitães em seu rodízio?
Sim, ele tem esse perfil. Independentemente de não termos trabalhado juntos, ouço entrevistas, manifestações, vejo o comportamento dele em jogos, e o vejo, sim, como um dos atletas que vai exercer a capitania da equipe, com perfil de liderança.
Sim, ele tem esse perfil. Independentemente de não termos trabalhado juntos, ouço entrevistas, manifestações, vejo o comportamento dele em jogos, e o vejo, sim, como um dos atletas que vai exercer a capitania da equipe, com perfil de liderança.
Tite, nos últimos 20 anos, quase todos os grandes jogadores brasileiros que surgiram acabaram sendo menos do que se esperava. Desde Ronaldinho Gaúcho, talvez o mais bem-sucedido, pois ganhou uma Copa e foi eleito duas vezes o melhor do mundo, até Pato, Ganso, Adriano, e por aí vai. Há um problema com os jogadores brasileiros ou nós esperamos demais deles?
Não sei. Tu colocou Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Para mim ele poderia ter tido uma longevidade maior. O porquê não compete a mim, mas ele tinha talento para um tempo maior no topo. De outros atletas... (pensativo). Enquanto profissional, não trago ao topo de comparação a Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Zico mais atrás e Romário, nem Pato nem Adriano. São atletas de níveis diferentes. Se criaram uma expectativa igual para eles, errados fomos nós no diagnóstico porque para mim não estão no mesmo patamar.
Não sei. Tu colocou Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Para mim ele poderia ter tido uma longevidade maior. O porquê não compete a mim, mas ele tinha talento para um tempo maior no topo. De outros atletas... (pensativo). Enquanto profissional, não trago ao topo de comparação a Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Zico mais atrás e Romário, nem Pato nem Adriano. São atletas de níveis diferentes. Se criaram uma expectativa igual para eles, errados fomos nós no diagnóstico porque para mim não estão no mesmo patamar.
Mas você não acha que o Brasil foca demais na descoberta de gênios, e acaba deixando bons jogadores escaparem pelo caminho? É difícil reunir jogadores fora de série, mas é preciso compor uma equipe.
1994 é o exemplo típico disso. O fera era o Romário, o resto era uma grande equipe muito bem organizada. A melhor organizada, o maior trabalho de um técnico numa seleção brasileira campeã foi o de Carlos Alberto Parreira em 94. Por ter um atleta diferenciado e outros grandes atletas. Em 1982, te dou seis jogadores extraordinários: os laterais (Leandro e Júnior) e os meio-campistas (Falcão, Toninho Cerezo, Sócrates e Zico). 1970 é sacanagem! E em 2002, Ronaldinho Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos. Que talento!
1994 é o exemplo típico disso. O fera era o Romário, o resto era uma grande equipe muito bem organizada. A melhor organizada, o maior trabalho de um técnico numa seleção brasileira campeã foi o de Carlos Alberto Parreira em 94. Por ter um atleta diferenciado e outros grandes atletas. Em 1982, te dou seis jogadores extraordinários: os laterais (Leandro e Júnior) e os meio-campistas (Falcão, Toninho Cerezo, Sócrates e Zico). 1970 é sacanagem! E em 2002, Ronaldinho Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos. Que talento!

Tudo isso para te perguntar: essa geração tem apenas um excelente, um fora de série, que é Neymar? É como em 1994 ou pode se formar um time com mais craques, como em 2002?
A seleção brasileira tem hoje um atleta diferente, de uma geração de 24 anos, e sendo comparado a Messi, de 29, e Cristiano Ronaldo, de 31. São ciclos diferentes, e ele já está nesse patamar, e crescendo e amadurecendo. Confesso que estou descobrindo o potencial de crescimento dessa equipe. Thiago Silva, Marcelo e Neymar são jogadores de qualidades incontestes. Não é à toa que Marcelo é capitão do Real Madrid, não é acaso o Thiago Silva, ninguém faz as coisas acontecerem assim (estala o dedo). Existe um processo: a evolução da equipe em cima de organização e criatividade. Mas há atletas crescendo: não tive oportunidade de trabalhar com Douglas Costa, mas quando um Guardiola fala que ele é fera, é porque tem alguma coisa aí. Fui assistir ao Coutinho, e ele é chamado de mago em seu senso de criação. Há potencial de evolução. Tu pega Marquinhos se consolidando, Alisson pegando maturidade, Casemiro numa posição-função diferente porque era segundo (meio-campista) no São Paulo, agora é primeiro no Real. É difícil dizer onde essa equipe vai bater. Há atletas mais experientes que passaram por situações difíceis e estão retomando seu melhor futebol: Paulinho. “Ah, mas está na China...”. Mas está na China com destaque. Fernandinho como primeiro homem de meio (no Manchester City, agora treinado por Pep Guardiola), numa rotina. Falei tudo isso para dizer que há um potencial de crescimento, e quero ser um agente que fomenta e tenta potencializar.
A seleção brasileira tem hoje um atleta diferente, de uma geração de 24 anos, e sendo comparado a Messi, de 29, e Cristiano Ronaldo, de 31. São ciclos diferentes, e ele já está nesse patamar, e crescendo e amadurecendo. Confesso que estou descobrindo o potencial de crescimento dessa equipe. Thiago Silva, Marcelo e Neymar são jogadores de qualidades incontestes. Não é à toa que Marcelo é capitão do Real Madrid, não é acaso o Thiago Silva, ninguém faz as coisas acontecerem assim (estala o dedo). Existe um processo: a evolução da equipe em cima de organização e criatividade. Mas há atletas crescendo: não tive oportunidade de trabalhar com Douglas Costa, mas quando um Guardiola fala que ele é fera, é porque tem alguma coisa aí. Fui assistir ao Coutinho, e ele é chamado de mago em seu senso de criação. Há potencial de evolução. Tu pega Marquinhos se consolidando, Alisson pegando maturidade, Casemiro numa posição-função diferente porque era segundo (meio-campista) no São Paulo, agora é primeiro no Real. É difícil dizer onde essa equipe vai bater. Há atletas mais experientes que passaram por situações difíceis e estão retomando seu melhor futebol: Paulinho. “Ah, mas está na China...”. Mas está na China com destaque. Fernandinho como primeiro homem de meio (no Manchester City, agora treinado por Pep Guardiola), numa rotina. Falei tudo isso para dizer que há um potencial de crescimento, e quero ser um agente que fomenta e tenta potencializar.
São apenas dois jogos, mas já é possível responder se Neymar é o jogador com mais recursos que você treinou?
Enfrentei ele pra caramba, estudava os movimentos que ele fazia, de que forma fazia, cortava a linha de passe, dobrava a marcação... (pensativo). Vamos colocar o seguinte: trabalhei com Ronaldinho Gaúcho e Ronaldinho Fenômeno. Tive Roberto Carlos, num outro momento. Ele seguramente está inserido entre os quatro que trabalhei.
Enfrentei ele pra caramba, estudava os movimentos que ele fazia, de que forma fazia, cortava a linha de passe, dobrava a marcação... (pensativo). Vamos colocar o seguinte: trabalhei com Ronaldinho Gaúcho e Ronaldinho Fenômeno. Tive Roberto Carlos, num outro momento. Ele seguramente está inserido entre os quatro que trabalhei.
Você trabalhou com Roberto Carlos e Ronaldo Fenômeno em fim de carreira, não teve todos os recursos ao seu dispor. E Ronaldinho Gaúcho bem no início.
Sim, em estágios diferentes de suas carreiras, mas medi os Ronaldinhos pelo conjunto da obra.
Sim, em estágios diferentes de suas carreiras, mas medi os Ronaldinhos pelo conjunto da obra.
Mesmo para um técnico que valoriza tanto o jogo coletivo, não tem tempo para treinar e tem Neymar no grupo, deve ser difícil resistir a dar uma orientação do tipo: se tiver difícil, toca nele que ele resolve.
Vou te dizer qual é o objetivo: no Barcelona ele fica um pouco mais aberto, esperando a jogada de amplitude porque quem flutua é o Messi. No Brasil, a área de ação dele é maior. Não é só esperar a bola chegar no um contra um porque o Messi roda, o Iniesta busca, o Busquets trabalha, o Rakitic vai enfiar para ele. Não, não, ele tem aqui uma liberdade parecida com a que o Messi tem. Quando a bola está do outro lado, eu digo: “Vai pra dentro, trabalha nas costas dos volantes, pode rodar”. Numa bola ele desencaixa a marcação. O que tenho futuramente? Depende das características do cada do outro lado (direito). No segundo tempo contra a Colômbia, pedi ao Willian para ficar bem aberto e o Neymar ter liberdade para rodar o campo todo, onde se sentisse confortável. Se jogar com o Coutinho, um flutua e o outro abre. Quero proporcionar ao atleta potencializar o talento. Há uma margem de ampliação dessa área de atuação do Neymar? Sim.
Vou te dizer qual é o objetivo: no Barcelona ele fica um pouco mais aberto, esperando a jogada de amplitude porque quem flutua é o Messi. No Brasil, a área de ação dele é maior. Não é só esperar a bola chegar no um contra um porque o Messi roda, o Iniesta busca, o Busquets trabalha, o Rakitic vai enfiar para ele. Não, não, ele tem aqui uma liberdade parecida com a que o Messi tem. Quando a bola está do outro lado, eu digo: “Vai pra dentro, trabalha nas costas dos volantes, pode rodar”. Numa bola ele desencaixa a marcação. O que tenho futuramente? Depende das características do cada do outro lado (direito). No segundo tempo contra a Colômbia, pedi ao Willian para ficar bem aberto e o Neymar ter liberdade para rodar o campo todo, onde se sentisse confortável. Se jogar com o Coutinho, um flutua e o outro abre. Quero proporcionar ao atleta potencializar o talento. Há uma margem de ampliação dessa área de atuação do Neymar? Sim.
Você fala muito da seleção de 1982, cita conversas com Zagallo. É possível beber taticamente nessas fontes?
Perfeitamente. E quando falo de meio-campo forte, falo de 82.
Perfeitamente. E quando falo de meio-campo forte, falo de 82.
Mas esses termos atuais, como “jogo apoiado”, “marcação alta”... Isso não existia em 70, em 82, ou estavam lá com outros nomes?
Tinha, mas era outra nomenclatura. Por vezes são ideias. O que evoluiu, por exemplo? Se o futebol tivesse em 1982 os posicionamentos de bola parada de hoje, o Brasil não teria sofrido o gol de escanteio da Itália. Desenvolveu-se uma metodologia de posicionamentos melhores (liga o laptop e mostra o vídeo do terceiro gol da Itália contra o Brasil). A bola viaja e ficam todos os jogadores enfiados dentro da área. Se saíssem, os italianos ficariam impedidos. Com um treinamento setorizado, não tomaria aquele gol, mas era uma coisa da época. Uma porrada de times faz marcação mista, o Barcelona faz. Eu não gosto, gosto de posicionar para sempre ter cobertura. Eu disse aos jogadores: “Olha por que eu quero esse posicionamento”, e mostrei o gol do Puyol (na vitória da Espanha por 1 a 0 sobre a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2010). E o Neymar falou assim: “Se estivéssemos assim, eu bloquearia o cara”. Porque nosso posicionamento tem dois reboteiros. Se o adversário embalar, tu bloqueia ele. Não precisa agarrar, mas tira a velocidade. O Puyol embalou sem nenhum bloqueador, subiu, caixa! Normalmente esse bloqueador é o mais baixinho porque atrapalha (no primeiro vídeo abaixo, repare na movimentação de Puyol, no detalhe, para o gol da Espanha; no segundo vídeo, a marcação do Brasil num escanteio da Colômbia, no último jogo, tem Neymar exatamente na região onde Puyol avançou. A ideia de Tite é bloquear quem entra em velocidade).
Tinha, mas era outra nomenclatura. Por vezes são ideias. O que evoluiu, por exemplo? Se o futebol tivesse em 1982 os posicionamentos de bola parada de hoje, o Brasil não teria sofrido o gol de escanteio da Itália. Desenvolveu-se uma metodologia de posicionamentos melhores (liga o laptop e mostra o vídeo do terceiro gol da Itália contra o Brasil). A bola viaja e ficam todos os jogadores enfiados dentro da área. Se saíssem, os italianos ficariam impedidos. Com um treinamento setorizado, não tomaria aquele gol, mas era uma coisa da época. Uma porrada de times faz marcação mista, o Barcelona faz. Eu não gosto, gosto de posicionar para sempre ter cobertura. Eu disse aos jogadores: “Olha por que eu quero esse posicionamento”, e mostrei o gol do Puyol (na vitória da Espanha por 1 a 0 sobre a Alemanha, na semifinal da Copa do Mundo de 2010). E o Neymar falou assim: “Se estivéssemos assim, eu bloquearia o cara”. Porque nosso posicionamento tem dois reboteiros. Se o adversário embalar, tu bloqueia ele. Não precisa agarrar, mas tira a velocidade. O Puyol embalou sem nenhum bloqueador, subiu, caixa! Normalmente esse bloqueador é o mais baixinho porque atrapalha (no primeiro vídeo abaixo, repare na movimentação de Puyol, no detalhe, para o gol da Espanha; no segundo vídeo, a marcação do Brasil num escanteio da Colômbia, no último jogo, tem Neymar exatamente na região onde Puyol avançou. A ideia de Tite é bloquear quem entra em velocidade).
Você conheceu Telê Santana?
Não, e gostaria de ter conhecido. Li “Fio de Esperança” (biografia do técnico, escrita pelo jornalista André Ribeiro) quando eu estava no Grêmio. Ele teve o grande Grêmio em 1977, e veja como linkamos uma coisa à outra. Telê trouxe Tadeu Ricci do interior de São Paulo para jogar no meio-campo do Grêmio. Quem? Cerebral pra caramba, e fez o Grêmio ter um meio-campo criativo e forte, e o ataque com André Catimba, que ele trouxe da Bahia, e Éder, que buscou em Minas. E quebrou uma sequência de oito anos de títulos do Internacional.
Não, e gostaria de ter conhecido. Li “Fio de Esperança” (biografia do técnico, escrita pelo jornalista André Ribeiro) quando eu estava no Grêmio. Ele teve o grande Grêmio em 1977, e veja como linkamos uma coisa à outra. Telê trouxe Tadeu Ricci do interior de São Paulo para jogar no meio-campo do Grêmio. Quem? Cerebral pra caramba, e fez o Grêmio ter um meio-campo criativo e forte, e o ataque com André Catimba, que ele trouxe da Bahia, e Éder, que buscou em Minas. E quebrou uma sequência de oito anos de títulos do Internacional.
O São Paulo do Telê ganhou tudo e não tinha centroavante, mas ninguém falava em “falso 9” na época.
Em 70 não tinha 9. O Tostão não era 9, era articulador. Quando as pessoas falam em quatro meio-campistas, cinco, três defensores, três atacantes, eu digo: não é isso, isso é muito raso. Tem que ver quem chega, de que forma chega, com que qualidade chega, quantos chegam. Isso é mais profundo, isso é fascinante.
Em 70 não tinha 9. O Tostão não era 9, era articulador. Quando as pessoas falam em quatro meio-campistas, cinco, três defensores, três atacantes, eu digo: não é isso, isso é muito raso. Tem que ver quem chega, de que forma chega, com que qualidade chega, quantos chegam. Isso é mais profundo, isso é fascinante.

Você assistiu recentemente à derrota do Brasil para a Itália em 1982?
Assisti novamente. São injustiças ao longo da vida que marcam, ficam na pele e doem. O Telê fez absolutamente certo. No primeiro lance depois que está 2x2, ele faz uma substituição do c...! Do c...! Ele bota Paulo Isidoro do lado e Sócrates de 9 para ter mais um a jogar, jogo apoiado, trabalhar. E toma o gol de bola parada. A Itália não chutou uma bola a gol depois do 2x2. E as pessoas vêm me dizer que ele tinha que ter botado o Batista de volante? Para, cara, para!
Assisti novamente. São injustiças ao longo da vida que marcam, ficam na pele e doem. O Telê fez absolutamente certo. No primeiro lance depois que está 2x2, ele faz uma substituição do c...! Do c...! Ele bota Paulo Isidoro do lado e Sócrates de 9 para ter mais um a jogar, jogo apoiado, trabalhar. E toma o gol de bola parada. A Itália não chutou uma bola a gol depois do 2x2. E as pessoas vêm me dizer que ele tinha que ter botado o Batista de volante? Para, cara, para!
Qual é o problema do gol de escanteio que o Brasil sofre?
A Itália bate e tem a primeira disputa. Nessa primeira disputa, o treinamento que faço é para que meus jogadores já estejam na linha da bola. Todos. Aí há uma segunda disputa. Sai porque eles ficarão impedidos, é posicional. O Tijuana faz isso com uma propriedade, eu aprendi lá com eles (o Corinthians enfrentou o Tijuana na Libertadores de 2013). Vasculhamos todas as bolas paradas deles. O Brasil não saiu e deu condição para dois jogadores da frente (veja o desenho da marcação nas fotos abaixo, e todos os gols da histórica partida no vídeo, em seguida).
A Itália bate e tem a primeira disputa. Nessa primeira disputa, o treinamento que faço é para que meus jogadores já estejam na linha da bola. Todos. Aí há uma segunda disputa. Sai porque eles ficarão impedidos, é posicional. O Tijuana faz isso com uma propriedade, eu aprendi lá com eles (o Corinthians enfrentou o Tijuana na Libertadores de 2013). Vasculhamos todas as bolas paradas deles. O Brasil não saiu e deu condição para dois jogadores da frente (veja o desenho da marcação nas fotos abaixo, e todos os gols da histórica partida no vídeo, em seguida).


Observando a tela do seu laptop, há um arquivo chamado “Linha burra”. O que é isso?
De novo, estudar e pesquisar futebol é desafiador. Vou te mostrar: falam maravilhas da Holanda de 74. Sim, porém com algumas evoluções. Olha o absurdo que o bandeirinha faz aqui. As pessoas confundem linha de impedimento, que é isso aqui, e compactação. Olha o Paulo César Carpegiani aqui, o passe dele está descoberto, então você não pode fazer uma ação dessa (a defesa inteira sair para deixar o atacante impedido), se não ele vai cavar. Nesse momento, a linha de quatro defensores ou para ou corre para trás porque o meio-campista está com a bola dominada e o passe limpo. Era o que eu pedia contra o Ganso: corta a linha de passe, faz ele tocar para o lado, para frente não, se não deixa alguém na cara do gol (no vídeo abaixo, veja como Carpegiani recebe a bola, a zaga da Holanda avança para fazer linha de impedimento, e o meia brasileiro lança o zagueiro Luís Pereira, que recebe em condição legal, mas o bandeira anula o lance).
De novo, estudar e pesquisar futebol é desafiador. Vou te mostrar: falam maravilhas da Holanda de 74. Sim, porém com algumas evoluções. Olha o absurdo que o bandeirinha faz aqui. As pessoas confundem linha de impedimento, que é isso aqui, e compactação. Olha o Paulo César Carpegiani aqui, o passe dele está descoberto, então você não pode fazer uma ação dessa (a defesa inteira sair para deixar o atacante impedido), se não ele vai cavar. Nesse momento, a linha de quatro defensores ou para ou corre para trás porque o meio-campista está com a bola dominada e o passe limpo. Era o que eu pedia contra o Ganso: corta a linha de passe, faz ele tocar para o lado, para frente não, se não deixa alguém na cara do gol (no vídeo abaixo, veja como Carpegiani recebe a bola, a zaga da Holanda avança para fazer linha de impedimento, e o meia brasileiro lança o zagueiro Luís Pereira, que recebe em condição legal, mas o bandeira anula o lance).
Ou seja, é possível beber na fonte do futebol antigo, mas havia muita qualidade naqueles jogadores, não?
Sim, sim. A essência é a qualidade técnica individual, são as percepções e a inteligência do atleta. Não sei quem fala, mas eu concordo: com atleta sem maior qualidade técnica a gente trabalha, mas com atleta burro é difícil. Não falo burro na capacidade de se expressar, mas na de compreender o jogo.
Sim, sim. A essência é a qualidade técnica individual, são as percepções e a inteligência do atleta. Não sei quem fala, mas eu concordo: com atleta sem maior qualidade técnica a gente trabalha, mas com atleta burro é difícil. Não falo burro na capacidade de se expressar, mas na de compreender o jogo.
Em entrevista ao jornalista Carlos Eduardo Mansur, de “O Globo”, você cita diferenças com Guardiola: o fato de ele ser estrela, algo em que você não se encaixa, e mudanças bruscas na equipe, como a da linha de quatro para uma de três que levou o Barcelona a ser eliminado pelo Chelsea na Liga dos Campeões, em 2012. Mesmo com todas essas diferenças, e sua reiterada reverência ao Carlo Ancelotti, não acha que Guardiola foi o técnico que mais colaborou com a evolução do futebol nos últimos tempos?
Sim. Jogo apoiado, triangulações, manutenção da posse de bola. E ele coloca em seu livro que pega atletas para lançar na equipe e eles têm no mínimo 10 anos com essa metodologia impregnada na base. Fica mais fácil implantar. Pelos livros que tenho lido, a ideia dessa forma de jogar vem de antes, não sei se com (César Luis) Menotti (técnico campeão do mundo pela Argentina em 1978), que se autodenomina quem iniciou essa fase. Uma ideia de jogo apoiado, triangulação para depois agredir. Se fosse no boxe, é como se você ficasse minando o adversário com jab (golpe para manter o adversário à distância, que não tem o objetivo de nocautear), jab, jab, e de tanto jab o cara não aguenta mais correr atrás. Jogar futebol sem a bola é extremamente difícil. O que te motiva é ter a bola, isso dá prazer. Há o momento de sofrer, mas ficar o tempo todo sofrendo e jogar “a la Mourinho”, no contra-ataque, ser mentalmente um time que abre não de jogar, não é nossa escola. Não consigo conceber assim. Vejo saber jogar assim em alguma circunstância, mas não sistematicamente jogar assim.
Sim. Jogo apoiado, triangulações, manutenção da posse de bola. E ele coloca em seu livro que pega atletas para lançar na equipe e eles têm no mínimo 10 anos com essa metodologia impregnada na base. Fica mais fácil implantar. Pelos livros que tenho lido, a ideia dessa forma de jogar vem de antes, não sei se com (César Luis) Menotti (técnico campeão do mundo pela Argentina em 1978), que se autodenomina quem iniciou essa fase. Uma ideia de jogo apoiado, triangulação para depois agredir. Se fosse no boxe, é como se você ficasse minando o adversário com jab (golpe para manter o adversário à distância, que não tem o objetivo de nocautear), jab, jab, e de tanto jab o cara não aguenta mais correr atrás. Jogar futebol sem a bola é extremamente difícil. O que te motiva é ter a bola, isso dá prazer. Há o momento de sofrer, mas ficar o tempo todo sofrendo e jogar “a la Mourinho”, no contra-ataque, ser mentalmente um time que abre não de jogar, não é nossa escola. Não consigo conceber assim. Vejo saber jogar assim em alguma circunstância, mas não sistematicamente jogar assim.
A inquietude do Guardiola, sua busca por coisas novas, por mais que às vezes o levem a derrotas, me parece fascinante.
Concordo absolutamente. Da mesma forma que questiono esse reposicionamento da linha de quatro, com a mesma isenção valorizo essa agressividade, esse perde-pressiona, esses cinco segundos de loucura, o agredir no campo adversário, deixar três jogadores à frente no tiro de meta, estar com a bola para encontrar o melhor momento de infiltrar.
Concordo absolutamente. Da mesma forma que questiono esse reposicionamento da linha de quatro, com a mesma isenção valorizo essa agressividade, esse perde-pressiona, esses cinco segundos de loucura, o agredir no campo adversário, deixar três jogadores à frente no tiro de meta, estar com a bola para encontrar o melhor momento de infiltrar.
Tite, há pelo menos cinco anos você escuta praticamente só elogios. Virou ídolo de uma torcida representativa, e foi alçado à condição de “salvador” da seleção brasileira nas eliminatórias. Como trabalha seu ego? Há uma pessoa por perto incumbida de dizer “calma, você não é tudo isso”, ou você mesmo faz esse papelEu. Eu me desafio muito, me questiono muito, tenho muitas inseguranças. Preciso ter mais conhecimento, quero ficar com minha cabeça toda voltada para o jogo, as situações do jogo, o que vai acontecer em termos de estratégia, interações, o resumo da semana.
Ego e vaidade estão presentes em toda personalidade, e não deve ser fácil ser uma pessoa pública, nessas condições, e não se deixar levar.
Sim. Eu tenho e fico orgulhoso. Sabe qual é meu maior orgulho? Sou identificado de alguma forma com o Corinthians, como fui com o Grêmio, e quando saí do Grêmio depois de dois anos e meio me disseram: “Tu vai ser sempre taxado de azulzinho”. Eu ficava quieto (em 2009, Tite conquistou a Copa Sul-Americana pelo Internacional, maior rival do Grêmio). Quando vejo um são-paulino ou um garoto palmeirense que o pai diz: “Meu filho gosta de ti, não te vê como um inimigo”. Isso transcende o jogo de futebol. Eu tenho pavor, e prefiro que não devolvam a bola se for para devolver lá na frente e fazer pressão no fair-play. Não sou babaca, sei que tenho que ganhar, minha filha sabia disso aos três anos, e aos cinco sabia que eu tinha que ganhar para ficar empregado. Então não vem com essa, mas vamos colocar o processo, vamos olhar de que forma tu faz as coisas. Isso é desafiador, é o que me fascina. Eu não vejo como as pessoas me veem. Sou um cara com uma série de imperfeições, que busca constantemente se aperfeiçoar. Não sou tão talentoso como imaginam, sou um ser humano que erra pra caramba e faz o mal por vezes, mas não faz premeditadamente. Que entende que nos últimos três anos merecia pelo trabalho desenvolvido, mas não sou melhor do que ninguém. Meu trabalho estava melhor, e daqui a pouco sairei e virá outro. E vai seguir. Eu me cobro muito. A mídia não me deslumbra. No último jogo, em Manaus, minha mulher disse: “Tu tá no outdoor”. E eu respondi: “Mas como estou no outdoor?”. Não me enxergo dessa forma. Eu sou filho de açougueiro, cara. Que aprendeu a acordar às seis horas da manhã e ir junto, eu sei tirar o filé mignon. Tu tira no início e rasga até o final (imita o gesto com as mãos) porque ele solta uma membrana. Eu sei quando é costela, filé, contra-filé. Não vem me falar que é picanha porque não vai me enganar. Sei o que é maminha pela fibra da carne. Essa educação de buscar as coisas me fomentou. Não sei quanto há de talento, não há muito, mas há busca pelo aperfeiçoamento. Talvez em outro momento da vida eu tenha tido (vaidade), mas é uma característica de educação.
Sim. Eu tenho e fico orgulhoso. Sabe qual é meu maior orgulho? Sou identificado de alguma forma com o Corinthians, como fui com o Grêmio, e quando saí do Grêmio depois de dois anos e meio me disseram: “Tu vai ser sempre taxado de azulzinho”. Eu ficava quieto (em 2009, Tite conquistou a Copa Sul-Americana pelo Internacional, maior rival do Grêmio). Quando vejo um são-paulino ou um garoto palmeirense que o pai diz: “Meu filho gosta de ti, não te vê como um inimigo”. Isso transcende o jogo de futebol. Eu tenho pavor, e prefiro que não devolvam a bola se for para devolver lá na frente e fazer pressão no fair-play. Não sou babaca, sei que tenho que ganhar, minha filha sabia disso aos três anos, e aos cinco sabia que eu tinha que ganhar para ficar empregado. Então não vem com essa, mas vamos colocar o processo, vamos olhar de que forma tu faz as coisas. Isso é desafiador, é o que me fascina. Eu não vejo como as pessoas me veem. Sou um cara com uma série de imperfeições, que busca constantemente se aperfeiçoar. Não sou tão talentoso como imaginam, sou um ser humano que erra pra caramba e faz o mal por vezes, mas não faz premeditadamente. Que entende que nos últimos três anos merecia pelo trabalho desenvolvido, mas não sou melhor do que ninguém. Meu trabalho estava melhor, e daqui a pouco sairei e virá outro. E vai seguir. Eu me cobro muito. A mídia não me deslumbra. No último jogo, em Manaus, minha mulher disse: “Tu tá no outdoor”. E eu respondi: “Mas como estou no outdoor?”. Não me enxergo dessa forma. Eu sou filho de açougueiro, cara. Que aprendeu a acordar às seis horas da manhã e ir junto, eu sei tirar o filé mignon. Tu tira no início e rasga até o final (imita o gesto com as mãos) porque ele solta uma membrana. Eu sei quando é costela, filé, contra-filé. Não vem me falar que é picanha porque não vai me enganar. Sei o que é maminha pela fibra da carne. Essa educação de buscar as coisas me fomentou. Não sei quanto há de talento, não há muito, mas há busca pelo aperfeiçoamento. Talvez em outro momento da vida eu tenha tido (vaidade), mas é uma característica de educação.
Então pode-se dizer que a seleção brasileira surgiu no momento mais maduro de sua carreira?
Serei direto: a Seleção apareceu para mim no momento mais maduro da minha carreira. Mais do que em 2014? Mais! Porque também fui à luta. Questionei uma semana (quando a CBF contratou Dunga após a Copa do Mundo de 2014) e fui ler, ver, ouvir, refletir, voltar e ter uma atitude meio de louco. Voltar ao Corinthians era muita loucura, tinha conquistado tudo. Remontar uma equipe e ela jogar o que jogou.
Serei direto: a Seleção apareceu para mim no momento mais maduro da minha carreira. Mais do que em 2014? Mais! Porque também fui à luta. Questionei uma semana (quando a CBF contratou Dunga após a Copa do Mundo de 2014) e fui ler, ver, ouvir, refletir, voltar e ter uma atitude meio de louco. Voltar ao Corinthians era muita loucura, tinha conquistado tudo. Remontar uma equipe e ela jogar o que jogou.
Jogou mais do que a equipe campeã mundial de 2012, não acha?
Sim. Em 2015 ela terminou o ano jogando e encantando. Não só os que iniciavam, mas tive tempo de treinamento para que todos os outros atletas entrassem e produzissem bem (a jogada do Corinthians no vídeo abaixo, em vitória sobre o Fluminense, no Brasileirão de 2015, é uma das que são mostradas no arquivo de ideias para os convocados de Tite).
Sim. Em 2015 ela terminou o ano jogando e encantando. Não só os que iniciavam, mas tive tempo de treinamento para que todos os outros atletas entrassem e produzissem bem (a jogada do Corinthians no vídeo abaixo, em vitória sobre o Fluminense, no Brasileirão de 2015, é uma das que são mostradas no arquivo de ideias para os convocados de Tite).
Já que falou do Corinthians, a demissão de seu substituto, Cristóvão Borges, te surpreendeu?
Não tenho condição de avaliar. Não sei. Não posso, não posso... Não sei.
Não tenho condição de avaliar. Não sei. Não posso, não posso... Não sei.
Você restringe a briga pelo título brasileiro a Palmeiras e Flamengo?
Não, o Atlético-MG está dentro. Eu retiro o Santos porque enfraqueceu seu plantel, diminuiu poderio sem o Gabigol, e a pontuação, para mim, não permite. Mas o Atlético-MG está dentro, tem peças de reposição importantes. Os três têm plantel e estão com nível de confiança alto.
Não, o Atlético-MG está dentro. Eu retiro o Santos porque enfraqueceu seu plantel, diminuiu poderio sem o Gabigol, e a pontuação, para mim, não permite. Mas o Atlético-MG está dentro, tem peças de reposição importantes. Os três têm plantel e estão com nível de confiança alto.
Disponível em < http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2016/10/do-brasil-de-70-ao-tijuana-tite-vira-pesquisador-para-levar-selecao-copa.html > Acesso dia 21 de outubro de 2016.

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