Ciência – Mundo Cientifico -
Estudo promete
revelar mistérios da mente adolescente
Por BBC Brasil
16 de maio de 2013
A impulsividade dos
adolescentes pode estar ligada a características do seu cérebro que mudam com a
idade?
Para responder a essa pergunta, a Universidade de Cambridge, na
Grã-Bretanha, está começando a realizar um amplo estudo no qual serão
monitorados os cérebros de 300 indivíduos com idades entre 14 e 24 anos.
A
pesquisa deve custar 5 milhões de libras (R$ 15 milhões) e tem como objetivo de
entender como o cérebro dos adolescentes muda conforme eles envelhecem e se a
tendência a agir de forma menos impulsiva com a idade pode estar relacionada a
essas mudanças.
Além disso, os coordenadores do estudo também esperam que ele
lance luz sobre as causas do surgimento de transtornos mentais em jovens
adultos.
Para Ed Bullmore, professor de psiquiatria da Universidade de
Cambridge, é provável que, com o tempo, mudanças no cérebro dos adolescentes
lhes ajudem a começar a controlar suas emoções e reações mais facilmente.
"Exames de ressonância magnética nos permitirão obter boas
imagens de como a anatomia do cérebro muda ao longo do desenvolvimento do
indivíduo", disse Bullmore à BBC. "Estamos particularmente
interessados em entender quais são as alterações no tecido da parte central do
cérebro, conhecido como massa branca."
Estrutura do cérebro
Para o psiquiatra, os exames devem mostrar que essa massa branca
sofre alterações em resposta a mudanças hormonais - e são tais alterações que
favorecem o autocontrole dos indivíduos.
Numa tentativa de testar essa hipótese, os 300 jovens e
adolescentes serão submetidos a situações em que será avaliada sua propensão a
adotar comportamentos impulsivos e tomar riscos em diferentes etapas de sua
vida.
Simultaneamente, eles também passarão por exames que analisam a
estrutura de seu cérebro.
"Todos nós já fomos jovens e sabemos que esse é um momento
difícil e confuso da vida", diz Becky Inkster, também da Universidade de
Cambridge.
Entre os primeiros a passarem pelos exames de ressonância
magnética está Samantha, de 16 anos, que segundo sua mãe, Kim, teria constantes
mudanças de humor.
"Se alguma coisa a perturba na escola, ela pode estar muito
mal-humorada quando chega em casa. Mas isso não dura muito tempo", diz
Kim.
"Notei minhas mudanças de humor recentemente. Às vezes
estou feliz e às vezes mal-humorada e irritada", comenta a menina.
"Eu me sentia muito culpada por causa dessas mudanças. Mas agora que sei
que isso é o que acontece (com adolescentes), já não me sinto tão mal."
Para Bullmore, uma das conclusões da pesquisa pode ser que o
cérebro dos adolescentes favorece processos de tomada de decisão motivados por
considerações de curto prazo e "estados emocionais imediatos".
A pergunta que muitos pais de adolescentes devem estar se
fazendo nesse ponto é: É possível apressar as mudanças cerebrais para acelerar
o amadurecimento dos filhos?
Bullmore acha que sim. "Se pudermos entender o que está
mudando no cérebro desses adolescentes do ponto de vista físico e mental,
poderemos no futuro planejar intervenções para apoiar ou acelerar um
amadurecimento na forma como as pessoas pensam", diz ele.
"Poderíamos tentar desenvolver, por exemplo, jogos de
computador ou outros programas de treinamento que ajudem os adolescentes a
desenvolverem suas habilidades cognitivas mais rapidamente."
Doenças mentais
Com o estudo, os pesquisadores também esperam entender como
alguns transtornos mentais se desenvolvem.
No final da adolescência e início da idade adulta existe um
elevado risco de desenvolvimento de doenças psicóticas, tais como esquizofrenia
e distúrbios bipolares.
Na realidade, muitos dos transtornos psiquiátricos consideradas
problemas da vida adulta começam a aparecer no final da adolescência e
examinando as ressonâncias magnéticas dos voluntários, a equipe de Bullmore
espera descobrir se na raiz dessas condições estão anormalidades no
desenvolvimento do cérebro.
Segundo o médico, a ideia é entender, por exemplo, "como
uma esquizofrenia que surge em um paciente de 19 ou 20 anos poderia estar
relacionada a problemas no desenvolvimento do cérebro desse indivíduo".
Para ele, tal tipo de compreensão ajudaria no desenvolvimento de
tratamentos melhores para diversos transtornos.
"Com esse conhecimento podemos abandonar a ideia de que as
doenças mentais em pessoas jovens são sobretudo um problema moral ou um
desastre aleatório", diz Bullmore.
Texto
em PDF:
Disponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130515_cerebro_adolescente_ru.shtml
> Acesso dia 16 de maio de 2013.
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