Ciência – Mundo Cientifico -
Universidade americana cria ‘psicólogo virtual’
Por BBC Brasil
29 de maio de 2013
O Instituto para Tecnologias Criativas, da Universidade do Sul da
Califórnia, é pioneiro na criação de humanos virtuais. E o resultado pode
ajudar pessoas que precisam de um ombro amigo.
A terapeuta virtual senta em uma grande poltrona, movendo-se levemente e
piscando naturalmente, aparentemente esperando que eu fique confortável diante
da tela de TV.
"Olá, eu sou a Ellie", diz ela. "Obrigada por vir."
Ela ri quando digo que ela é um pouco assustadora e logo começa a fazer
perguntas, para saber de onde eu vim e onde estudei.
"Não sou uma terapeuta, mas estou aqui para aprender sobre as
pessoas e adoraria saber mais de você", diz ela. "Tudo bem?"
A voz de Ellie é suave e calmante, e, à medida que faz perguntas cada
vez mais pessoais, eu começo a responder como se falasse com uma pessoa real, e
não uma imagem gerada por computador.
Linguagem
corporal
"Como você está controlando seu temperamento?", questiona.
"Quando foi a última vez que entrou em uma discussão?"
A cada resposta, eu estou sendo assistido e estudado em detalhes por um
mero sensor de jogos e uma webcam.
A forma como sorrio, o movimento dos meus olhos, o tom da minha voz e a
minha linguagem corporal estão sendo registrados e analisados por um sistema
informatizado, que informa Ellie quanto à melhor maneira de interagir comigo.
"Modo Mágico de Oz" é como o pesquisador Louis-Philippe
Morency descreve esse experimento acadêmico.
Numa sala ao lado, sua equipe controla o discurso de Ellie, mudando sua
voz e sua linguagem corporal para tirar o máximo da conversa comigo.
Pessoas de verdade respondem diariamente às perguntas de Ellie como
parte da pesquisa do Instituto para Tecnologias Criativas (ICT na sigla em
inglês), e o computador está pouco a pouco aprendendo como reagir em cada
situação.
Terapia remota
A máquina está aprendendo a se humanizar e a responder a sinais emitidos
por pacientes, como fariam os médicos.
Em breve, Ellie conseguirá funcionar sozinha. Isso abre uma enorme
oportunidade para sessões remotas de terapia, usando o conhecimento fornecido
por alguns dos mais importantes psicólogos do mundo.
Mas Morency não gosta do termo "psicólogo virtual" e não
acredita que seu método possa um dia substituir as sessões com terapeutas
reais.
"(A novidade) é mais um assistente para o profissional, da mesma
forma que você tira uma amostra de sangue cuja análise é enviada ao
médico", diz ele.
O sistema foi projetado para identificar sinais de depressão ou estresse
pós-traumático, algo particularmente útil no tratamento de soldados e veteranos
de guerra.
"Buscamos respostas emocionais ou mesmo a falta de uma resposta
emocional", prossegue Morency. "Agora, temos formas objetivas de
medir o comportamento das pessoas, então esperamos que (o programa) possa ser
usado para traçar diagnósticos mais precisos."
Militares
O software permite que um médico acompanhe o progresso do paciente ao
longo do tempo, comparando sessões por parâmetros científicos.
"Nosso problema, sobretudo com a atual crise de saúde mental no
Exército (dos EUA), é que não temos atendentes suficientemente treinados para
lidar com o problema", afirma Skip Rizzo, diretor-associado de realidade
virtual médica do ICT.
"(O software) não é um substituto para um atendente real, mas pode
ajudar a preencher lacunas e ajudar pessoas a obter o tratamento que
necessitam."
O centro trabalha em colaboração com militares americanos, que,
envolvidos nas longas guerras do Iraque e do Afeganistão, têm de lidar com
centenas de milhares de soldados adoecidos por algum tipo de estresse
pós-traumático.
"Existe um tabu (entre soldados), que muitas vezes hesitam em falar
de seus problemas", diz Rizzo. Um aconselhamento virtual talvez alivie
essa relutância.
Comportamento
O laboratório inteiro está fazendo experimentos com humanos virtuais,
mesclando diversas tecnologias e disciplinas, como captação de movimento e
reconhecimento facial.
Morency é premiado por seu trabalho em relacionar psicologia e
movimentos faciais.
"Pessoas ansiosas tendem a mexer mais com suas mãos; pessoas em
dificuldades geralmente têm um sorriso mais curto e de menor intensidade.
Pessoas deprimidas desviam o olhar" explica ele.
Não é fácil fazer imagens gráficas parecerem humanas, mas, quando se
obtém um efeito crível, elas podem ser uma importante ferramenta de ensino e
aprendizado. Nessa linha, o laboratório desenvolve diversos projetos para
testar o limite e o potencial das interações virtuais.
No andar de baixo, experimentos criam hologramas em 3D de um rosto
humano. E, em todo o edifício do instituto, projetos transitam entre os mundos
real e imaginário.
Texto em PDF
Disponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130522_psicologo_virtual_pai.shtml
> Acesso dia 29 de maio de 2013.
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