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Como a China gasta suas reservas
bilionárias?
Por BBC Brasil
31 de maio de 2013
É possível ter uma coisa boa em excesso?
A pergunta vem do fato de que, enquanto muitos governos ocidentais têm
de se preocupar com seus crescentes deficit comerciais, a China tem o problema
oposto.
Graças ao seu sucesso como país exportador, a China tem as maiores
reservas de moeda estrangeira do mundo. E essas reservas não param de crescer -
chegaram a um recorde de US$ 3,44 trilhões.
Com todos os zeros, essa soma é US$ 3.440.000.000.000, equivalente ao
tamanho da poderosa economia alemã.
O conteúdo das reservas é um segredo de Estado, mas um relatório
divulgado anos atrás no periódico China Securities Journal revelou
que 65% delas consistem em dólares, 26% em euros, 5% em libras e 3% em ienes.
A China é a maior detentora de títulos da dívida do governo americano,
depois do Fed (banco central americano). Também tem títulos da dívida de
governos europeus, mas não tantos títulos de países periféricos endividados -
pelo menos não tantos quanto a zona do euro gostaria.
No pico da crise do euro, a moeda comum europeia subia a cada sinal de
que a China planejava comprar títulos europeus.
Você pode achar que ter um superavit comercial como o chinês seja uma
boa notícia. Mas, segundo autoridades do banco central da China, a situação
acabou causando um problema, por causa do câmbio fixo chinês.
Desafios
As reservas internacionais ajudam a proteger a moeda de um país de
ataques, já que a venda de moedas estrangeiras ajuda a sustentar o valor da
moeda local. Os bancos centrais aprenderam essa lição após a crise financeira
da Ásia, em 1997.
A China permite que o yuan flutue até 1% para mais ou menos, e as
reservas ajudam nisso. Mas não está claro qual a quantidade de reservas que um
país realmente precisa.
Não se trata apenas do temor de que o dólar ou o euro se depreciem. A
preocupação é também de que as reservas contribuam para um excesso de dinheiro
na economia. Isso tem levado ao aumento de preços, inclusive de habitação.
Quando um banco central acumula reservas, ele imprime dinheiro (yuan)
para comprar os dólares, euros, libras e ienes que acrescenta a essas reservas.
Para impedir que isso gere inflação (imagine o que aconteceria se a China
imprimisse US$ 3,4 trilhões à sua economia, que movimenta US$ 8 trilhões), o BC
"esteriliza" suas ações tirando a quantidade de dinheiro equivalente
da economia.
A China faz isso pagando juros ao dinheiro que bancos comerciais
depositam no Banco Central, para incentivar os bancos a deixar seu dinheiro
ali.
A esterilização tende a ser incompleta, já que os bancos buscam taxas de
remuneração maiores em outros investimentos, em vez de deixar todo seu dinheiro
no BC.
Além disso, há a preocupação de que o BC não esteja obtendo um grande
retorno nessas reservas, já que os yields (taxas de juros) de títulos das
dívidas europeias e americanas são baixos.
Então, a China usa essas reservas para financiar investimentos no
exterior. Pequim quer comprar ativos reais - como portos, recursos naturais, tecnologia
e companhias financeiras.
Isso contribui para seu objetivo de criar multinacionais chinesas.
Política de
expansão
Ter empresas competitivas globalmente poderia ajudar a China a aumentar
sua capacidade tecnológica e sua produtividade, algo crucial para sustentar seu
crescimento. A China gostaria de seguir o exemplo de outros que enriqueceram -
como a Coreia do Sul ou Taiwan - e desenvolver marcas internacionais, como
Samsung e HTC.
Essa era a meta quando Pequim lançou sua política global, em 2000. O
primeiro investimento comercial no exterior foi em 2003-04, na Europa, quando a
empresa chinesa TCL comprou a marca francesa Thomson.
Desde então, seus investimentos estrangeiros aumentaram exponencialmente
e atingiram níveis recordes, superando os internos - dado que geralmente indica
que um país está chegando ao nível de desenvolvimento econômico.
A maioria desses investimentos chineses tem ido para outras partes da
Ásia, para a América Latina e a Europa.
Para investir no exterior, as empresas chinesas necessitam de
autorização oficial, já que o governo do país é o controlador de movimentos de
capitais. Sendo assim, os investimentos chineses vão para onde a China tem
interesse em crescer - não apenas recursos naturais, mas também tecnologia e
serviços com valor agregado. É por isso que os países que mais recebem esses
investimentos (com exceção de Hong Kong e Ilhas Cayman) são Austrália,
Cingapura e EUA.
Política
No entanto, o capital chinês nem sempre é bem recebido. Investimentos de
origem estatal podem gerar desavenças políticas, como já ocorreu nos EUA e na
Austrália.
E empresas privadas chinesas têm dificuldades em operar, por conta da
falta de transparência quanto ao que é privado e o que é ordenado pelo Estado.
Isso indica uma necessidade de reformas na China, para deixar claras as fontes
de financiamento em seus negócios internacionais e a real posse de empresas
chinesas.
Ao mesmo tempo, a China não deve continuar tendo os grandes superavit
comerciais do passado.
Em 2012, o superavit caiu para menos de 3% do PIB - chegara a 10% antes
da crise de 2008. Os chineses não estão exportando tanto por conta da menor
demanda externa, então é improvável que acumulem tantas reservas quanto antes.
Isso também significa que será mais importante que os investimentos
chineses no exterior sejam bem vistos, já que a China dependerá mais de
multinacionais produtivas e competitivas para continuar crescendo. E essas
empresas precisarão cada vez mais se financiar de maneira competitiva.
Certamente veremos mais empresas chinesas disputando terreno global. Seu
sucesso será importante não apenas para as próprias empresas, mas para o
próprio futuro da China.
Texto em PDF:
Disponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130529_china_reservas_pai.shtml
> Acesso dia 03 de junho de 2013.
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