terça-feira, 4 de junho de 2013

Ciência – Mundo Cientifico – Viver sem internet por um ano


Ciência – Mundo Cientifico –

Viver sem internet por um ano

Por Discovery Brasil
10 de maio de 2013

Quem tem a sorte de fazer parte da sociedade de consumo, com todas as suas facilidades, ritmos e vícios, tem o direito de estabelecer uma existência conectada. Tudo está disponível e facilitado, aberto à interação, trocas e descobertas. Nesse cenário, é difícil pensar em um mundo mais lento e minucioso.
O que aconteceria com quem, por um motivo ou por outro, decidisse se afastar desse mundo? Atenção: essa hipótese nada tem a ver com o filme Na Natureza Selvagem, de Sean Penn, nem prevê um cenário hostil. A referência, nesse caso, são os que escolhem se desconectar em um sentido mais literal: permanecer off-line em um mundo que, cada vez mais, caracteriza-se por viver on-line.
Essa foi a decisão de um dos jornalistas de tecnologia do site The Verge: cansado do ritmo da conexão contínua, Paul Miller aceitou o desafio e se desconectou em 1º de maio de 2012, com o objetivo de permanecer um ano inteiro sem conexão com a web. O desafio era múltiplo: ele não imaginava como seria viver sem estar conectado, mas pensou que talvez a vida real, seu verdadeiro eu, existisse off-line.
O site remunerou o jornalista durante os 365 dias da experiência, cujo objetivo era descobrir como a internet havia “afetado” Miller ao longo dos anos. Ele percebeu que a melhor maneira de entender o fenômeno era se afastando, para observá-lo de fora. Segundo o relato que Miller escreveu ao final do processo, a experiência o transformou em uma pessoa melhor, fazendo-o entender como a internet o estava corrompendo.
Ele então respirou fundo, tomou impulso e se soltou: desligou o cabo Ethernet, desconfigurou sua rede Wi-Fi e trocou seu Smartphone por um modelo básico. Enfim, liberdade.

A fantasia da desconexão
Tudo começou bem. Miller passou a ver o mundo à sua volta de outra forma. “Minha vida estava repleta de eventos afortunados: encontro com pessoas de verdade, frisbee no parque, passeios de bicicleta e literatura grega. Criei meio romance e escrevi mais do que nunca. Durante os primeiros meses, meu chefe reclamou que eu estava escrevendo demais”, recorda.
As primeiras semanas serviram para comprovar a hipótese inicial de Paul. Afastar-se da cultura breve e efêmera que predomina na internet serviu para expandir sua mente para novas direções e desenvolver os pensamentos com mais profundidade. Também compreendeu o quanto se pode aprender sem estar conectado, por meio da nova disposição que adquiriu quanto ao uso do tempo.
Uma das mudanças fundamentais foi parar de trocar e-mails para receber e responder cartas (ele usava uma caixa postal para receber a correspondência). Aí também viu uma forma de entretenimento, porque recordou o valor das conversas tangíveis.

As más decisões nos perseguem
Mas a experiência não foi de todo pacífica. Miller começou a sentir o rigor da desconexão no final de 2012. Então, já sabia como fazer más escolhas e perder tempo sem depender da ajuda da internet. O fastio deixou de ser um estímulo para ser a mais pesada das cargas.
Então, por uma estranha razão, caiu em um estado de torpor. Começou a ficar cada vez mais tempo jogado no sofá, sem fazer nada produtivo, e tornou-se fanático por videogames pouco construtivos. Passou do entusiasmo que a nova vida havia lhe mostrado para uma introversão bastante insólita.
Como se explica essa mudança? Como se produz uma ruptura? Miller entendeu que a moral não é afetada pela presença da internet. As coisas práticas, às quais estamos acostumados todos os dias, continuam existindo, mas as atividades apresentam uma dificuldade adicional. O maior obstáculo era o contato com os amigos: para ele, era mais fácil falar com eles pelas redes sociais ou aplicativos móveis, por uma questão de praticidade. Ele relevou por algum tempo, mas se deu por vencido quando percebeu que os contatos passaram a ser mais espaçados porque dependiam de formas não tecnológicas.
Nas palavras de Paul Miller: “É difícil definir onde estava a mudança. Creio que os primeiros meses foram bons porque percebi a ausência de pressão por estar sem internet. Minha liberdade parecia palpável, mas no momento em que deixei de me ver como uma pessoa ‘desconectada’, minha existência tornou-se mundana. Foi quando veio à tona meu lado mais pessimista”.
Durante a experiência, ele assistiu a uma conferência em Nova York chamada “Teorizando sobre a web”. No evento, teve a oportunidade de conversar com Nathan Jurgenson, um dos organizadores, que lhe falou sobre a “realidade no virtual e o virtual no real”: “Quando usamos um telefone ou computador, continuamos a ser humanos que ocupam tempo e espaço, e quando estamos longe de nossos dispositivos, aproveitamos o tempo livre pensando, por exemplo, em twittar para contar o que nos aconteceu”, explicou Miller.
Está frase foi fundamental para que Paul entendesse como era sua relação com o meio: seu “verdadeiro eu” existia desde sempre e, na verdade, tratava-se de uma pessoa que estava inevitavelmente conectada à internet.

A internet não tem culpa
“Não posso culpar a internet por meus problemas e fatos circunstanciais. Minhas preferências são as mesmas, independentemente de estar on-line ou offline, e tenho certeza de que minha conexão com a web não é um fator determinante para mudá-las”, conclui.
Embora seja uma experiência particular, impossível de ser generalizada por falta de rigor científico, a bem-sucedida desconexão de Miller serve para fornecer outro ponto de vista às alegações de alguns apocalípticos, que defendem o fim da existência da própria internet.
A internet não é algo individual: ela dialoga com a construção coletiva. A Rede, hoje, é onde as pessoas estão.

Texto em PDF:
Disponível em < http://noticias.discoverybrasil.uol.com.br/viver-sem-internet-por-um-ano/ > Acesso dia 04 de junho de 2013.


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