sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ciência – Mundo Cientifico – A Afluência é uma condição real




Ciência – Mundo Cientifico –

A Afluência é uma condição real
Por Discovery Brasil
18 de dezembro de 2013 

Houve muita desconfiança quando um advogado do Texas alegou que um adolescente de 16 anos matou quatro pessoas dirigindo embriagado porque sofria de “afluência”, ou seja: era tão mimado pelos pais ricos que não percebia as consequências de seu mau comportamento.
Mas ao que parece, o argumento convenceu o juiz, que optou por uma pena mínima. Ethan Couch foi solto sob liberdade condicional e precisará se submeter a um tratamento contra alcoolismo, mas não irá para a prisão.
Afinal, a afluência é uma condição psiquiátrica verdadeira ou simplesmente define os novos mimados? “É uma ideia agradável na imaginação do público, mas não há padrões de diagnóstico que confirmem que uma pessoa tem ‘afluência’”, afirma Thomas Plante, professor de psicologia da Universidade de Santa Clara.
Apesar de não constar do Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais, tanto Plante como Suniya Luthar, professora de psicologia da Universidade Estadual do Arizona, afirmam que reconhecem o comportamento. Como parte de um estudo recente, a pesquisadora fez a seguinte pergunta a um grupo de adolescentes: “Se você fosse flagrado na escola com vodca pela terceira vez, e o diretor decidisse denunciá-lo à polícia, como seus pais reagiriam?”. Segundo Luthar, 20% dos jovens declararam que seus pais “provavelmente” ou “definitivamente” reclamariam.
“Na classe média alta, quando as crianças entram na adolescência, os pais têm medo de que um mau passo comprometa seu futuro”, explica Luthar. Segundo ela, alguns pais preferem uma transferência de escola a encarar uma mancha no currículo. “Eles não estão fazendo nenhum bem a seus filhos. Não é fácil bancar o ‘policial mau’, mas é assim que as crianças aprendem as consequências de seus atos. Se valorizarem um histórico escolar impecável em detrimento da atribuição de responsabilidades, terão problemas”.
O psicólogo que testemunhou no caso, Dr. G. Dick Miller, declarou que Couch sempre teve tudo o que quis e nunca sofreu as consequências de seus atos. Aos 15 anos, por exemplo, quando a polícia o encontrou em uma picape com uma garota de 14 anos, nua e desmaiada, seus pais não o puniram. A defesa argumentou que Couch seria inimputável porque seus pais nunca o ensinaram a ser responsável.
Embora Couch não pareça ter um transtorno diagnosticável, os comportamentos descritos podem indicar distúrbios reais, afirma Plante. As pessoas com distúrbio de personalidade narcisista, por exemplo, acham que o mundo gira em torno delas, a ponto de não se importarem com os outros. Isso pode levar a comportamentos destrutivos, como infidelidade, cleptomania e estupro. O abuso de substâncias e distúrbios de controle de impulsos, como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade), também podem provocar comportamentos similares.
Muitos distúrbios comportamentais e de personalidade são resultado de uma convergência de fatores sociais, biológicos e psicológicos, o chamado modelo biopsicosocial, explica Plante. E pessoas com tendência a apresentar comportamentos doentios provavelmente farão escolhas ruins se tiverem pais excessivamente tolerantes.
Plante, que trabalha no Vale do Sicílio, tem observado o que pais ricos e lenientes fazem com seus filhos o tempo todo. “Quando um jovem não ganha uma BMW quando faz 16 anos, nós brincamos dizendo que é abuso infantil”, conta.
Um estudo de 2012 comprovou que os motoristas de BMWs se mostravam menos dispostos a parar em faixas de pedestres, mesmo quando exigido por lei.
Para contrariar a tendência de criar monstros mimados, Plante conta que ele e sua esposa se esforçam para que seu filho adolescente conserve a humildade. Para isso, ele se alterna entre as atividades diárias e o trabalho voluntário com pessoas pobres e marginalizadas.
“Conversamos ontem porque ele foi aceito na Universidade de Dartmouth”, diz Plante. “Nós dissemos ‘isso é ótimo, vamos comemorar, mas não deixe isso subir à sua cabeça. Somos privilegiados, mas não somos diferentes de ninguém”.
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Disponível em < http://noticias.discoverybrasil.uol.com.br/afluencia-e-uma-condicao-real/ > Acesso dia 20 de dezembro de 2013.

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