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Conheça os
principais investimentos chineses na América Latina
Por BBC Brasil
05 de maio de 2014
Mineradora Las Bambas,
no Peru, foi adquirida por consórcio chinês por US$ 5,8 bilhões.
Nada mais
simbólico sobre a presença da China na América Latina do que a recente aquisição da mina Las Bambas, no Peru.
O consórcio chinês MMG LTD,
liderado pela estatal Minmetals Corp, adquiriu a mina de cobre da companhia suíça Glencore Xstrata PLC por US$ 5,8
bilhões.
O Brasil também está na lista dos países
latino-americanos que mais recebem investimentos do país asiático. No ano
passado, um consórcio composto pela Petrobras, a francesa Total, a
anglo-holandesa Shell, e as chinesas CNPC e Cnooc ganhou os direitos para explorar
a bacia de Libra, maior reserva petrolífera brasileira.
O desembarque chinês na região
tem se caracterizado pelo deslocamento ou aquisição de empresas ocidentais por meio de grandes investimentos de empresas
ou consórcios estatais.
Esta estratégia vem sendo possível por meio de um sistema
de liberação de fundos do banco estatal chinês, que permite às empresas acesso
a grandes somas e, aos governos da região, financiar projetos sociais, como
habitação, ou em infraestrutura, como estradas, transportes, entre outros.
Segundo o Instituto de Governança Econômica Global (Gegi,
na sigla em inglês), da Universidade de Boston, a China concedeu US$102 bilhões
em empréstimos à América Latina entre 2005 e 2013.
"Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio,
em 2001, o comércio cresceu muito e isso levou, naturalmente, a um boom nos
investimentos", afirma à BBC Mundo Amos Irwin, da Gegi.
"Em vez de comprar o cobre de uma empresa na América
Latina, a China decidiu adquiri-la ou ganhar uma participação majoritária para
ter mais controle", acrescenta.
A estratégia chinesa é uma complexa integração entre seu
setor financeiro e produtivo.
"Em relação aos montantes, os empréstimos para a
indústria petroleira e para outros propósitos garantidos pelos dividendos da
commodity são mais importantes do que as aquisições", afirma Irwin.
No reino dos grandes investimentos do gigante asiático, a estrela é o petróleo. Três
companhias chinesas, Sinopec, CNPC e Cnooc, disputam o conjunto dos
investimentos neste setor.
Abaixo, os cinco maiores investimentos chineses na região.
1. Venezuela
Venezuela é o principal destino dos investimentos
chineses na América Latina
Em 19 de setembro do ano passado,
o ministro do Petróleo venezuelano, Rafael Ramírez, anunciou um acordo com a China National Petroleum Corporation (CNPC) para obter
investimentos de US$ 28 bilhões em um novo projeto na Faixa Petrolífera de
Orinoco.
A CNPC é a companhia mãe da Petrochina, segunda maior
petroleira do mundo em termos de capital.
A este acordo se somou outro de US$ 14 bilhões anunciado
pelo mesmo ministro com a estatal China Petroleum & Chemical Corporation
(Sinopec).
A Sinopec também já foi protagonista de outros grandes
investimentos chineses na região.
2. Brasil
Em outubro de 2010, a Sinopec, maior refinaria chinesa,
adquiriu 40% da espanhola Repsol no Brasil por US$ 7,1 bilhões.
Em 2011, expandiu suas operações no país com a aquisição
por mais de US$ 5 bilhões de 30% das operações da petroleira portuguesa GALP.
As duas operações são uma clara indicação da presença da
Sinopec no Brasil e da estratégia chinesa de adquirir parcialmente ou de fazer
uma fusão com companhias já em atuação.
E esta estratégia não se limita ao Brasil. Dois meses
depois da aquisição parcial da Repsol, a Sinopec adquiriu na Argentina a
americana Occidental Petroleum por mais de US$ 2,4 bilhões.
No ano passado, as chinesas CNPC e CNOOC fizeram parte do
consórcio vencedor do leilão para a exploração da bacia de Libra, maior reserva
de petróleo do Brasil.
3. Argentina
A petroleira China National Offshore Oil Corporation
(Cnooc) se tornou a segunda maior petroleira na Argentina, atrás apenas da
estatal YPF, por meio de uma série de aquisições parciais multimilionárias de
diferentes companhias.
Seu maior investimento foi em março de 2010, quando
comprou 50% da petroleira argentina Bridas por US$ 3,1 bilhões.
China aproveitou crise internacional para investir no
pré-sal brasileiro
Em novembro do mesmo ano, a Bridas, já de maioria
chinesa, adquiriu 60% da Pan American Energy por US$ 7 bilhões.
E em fevereiro do ano seguinte, a Pan American Energy
adquiriu 100% dos ativos da Esso Argentina por mais de US$ 800 milhões.
A nacionalização da YPF em 2012, que pôs em pé de guerra
vários países ocidentais, não perturbou a China, que, em janeiro do ano
passado, se associou à estatal argentina para a exploração de petróleo de xisto
na gigantesca reserva de Vaca Muerta.
4. Peru
Depois do setor energético – petróleo e gás –, a
mineração é a área que mais capta investimentos chineses na região.
Com a aquisição pelo consórcio MMG LTD das minas de cobre
Las Bambas, a maior em valor na história peruana, a China elevou seus
investimentos em projetos de mineração na região para US$ 19 bilhões.
Outros investimentos
Em termos de valores, os
empréstimos superam qualquer investimento direto.
Segundo a Gegi, a Venezuela
recebeu cerca de US$ 50 bilhões emempréstimos garantidos por fornecimento de petróleo. Se a isto se somar o
investimento direto, a Venezuela é o primeiro destino de investimentos chineses
na América Latina.
Exemplos destes empréstimos são o fundo de investimento
bilateral de US$ 17 bilhões, criado em 2007 com prioridade para investimentos
agrícolas, ou os US$ 4 bilhões concedidos em 2011 pelo Banco da China para a
construção de casas.
No caso do Brasil, a Petrobras recebeu, em 2009, um
empréstimo de US$ 10 bilhões para o desenvolvimento da produção de petróleo
offshore.
Em novembro de 2007, a Petrobras anunciou a descoberta do
campo de Tupi, com reservas potenciais de 8 bilhões de barris de petróleo que
poderiam começar a ser exploradas a partir de 2020.
A descoberta do pré-sal foi classificada como a mais
importante em 30 anos, mas exigia grandes investimentos em um momento em que os
mercados financeiros globais estavam secos pela crise do crédito.
O mau momento se acentuou um ano depois, com a queda do
banco Lehman Brothers e a consequente crise financeira internacional.
A China soube aproveitar deste momento para financiar
investimentos da Petrobras por meio de um empréstimo do China Development Bank
Corp.
Mas os investimentos chineses não ocorrem necessariamente
dentro do território latino-americano.
"Se a economia chinesa continuar crescendo, continuará
exigindo um enorme fluxo de recursos, tanto para o consumo interno quanto para
a exportação"
Gegi Amos
Irwin
Exemplo disso são os investimentos em refinarias de
petróleo.
Em 27 de abril de 2012 foi inaugurada a pedra fundamental
da refinaria Jie Yang, na província chinesa de Guagdong, empreendimento no qual
a estatal venezuelana PDVSA está associada à China National Petroleum
Corporation (CNPC). Juntas, pretendem construir outras duas refinarias em
território chinês por um custo aproximado de US$ 16 bilhões.
O objetivo destas refinarias é processar petróleo
venezuelano para uso doméstico chinês.
O investimento em transportes é outro ponto forte da
expansão do gigante asiático.
De acordo com o rastreador global de investimentos
chineses da Heritage Foundation, a China investiu na Venezuela mais de US$ 8
bilhões em transporte, enquanto na Argentina a soma gira em torno dos US$ 3
bilhões.
Apesar de o crescimento dos investimentos chineses ter
diminuído nos últimos dois anos (abaixo de 7,4% no ano passado), nada indica
que o fluxo de recursos vai parar.
"Se a economia chinesa continuar crescendo,
continuará exigindo um enorme fluxo de recursos, tanto para o consumo interno
quanto para a exportação", afirma Irwin.
"Assim, continuará forte a demanda por
matérias-primas e a pressão interna para que esses recursos sejam adquiridos
diretamente", acrescentou.
Texto em PDF:
Disponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/05/140505_investimentos_china_venezueala_fl.shtml > Acesso dia 05 de maio de 2014.
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